O Executivo angolano (do MPLA há 50 anos, tal como o da Frelimo) manifestou a disponibilidade de trabalhar com Moçambique para o estreitamento das relações bilaterais e reiterou o compromisso de continuar a manter e reforçar os laços históricos de cooperação.
Paulo de Morais escreve: «O ex-ministro João Cravinho chefiou uma Missão de Observação Eleitoral da CPLP a Moçambique que “testemunhou contagem errada de votos e indícios de eleitores que votaram várias vezes”, “condicionando negativamente a transparência e credibilidade do processo”. A Missão considerou que as eleições em Moçambique “ocorreram num quadro de desconfiança face ao sistema eleitoral”. Mas, entretanto, Cravinho desapareceu, remeteu-se a um silêncio cúmplice com esta fraude eleitoral.»
A pretensão de continuarem unidos na defesa dos dois reinos esclavagistas irmãos, foi expressa pelo Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República do general João Lourenço, Adão de Almeida, durante uma audiência concedida pelo agora ex-Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, nesta quarta-feira, 14 de Janeiro, em Maputo.
Adão de Almeida também expressou solidariedade a Moçambique face à tensão pós-eleitoral e almejou um processo de transição pacífica no país irmão.
O ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República de Angola deslocou-se à capital moçambicana para testemunhar, em representação do Chefe de Estado angolano, general João Lourenço, o acto de investidura do novo Presidente da República de Moçambique, Daniel Chapo, supostamente eleito a 9 de Outubro de 2024.
Na audiência, Adão de Almeida fez-se acompanhar por uma curta delegação, integrada pelo embaixador de Angola em Moçambique, José João Manuel, e por quadros do Ministério das Relações Exteriores (MIREX).
CRAVINHO, CPLP E TRAMPA SIMILAR
Recorde-se que Elvino Dias, advogado do candidato presidencial Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do Podemos, partido que o apoia, foram mortos, no centro de Maputo, por indivíduos desconhecidos que dispararam sobre a viatura em que seguiam. Portugal, União Europeia, CPLP, EUA e cinco embaixadas em Maputo simularam uma reacção e disseram que “condenavam liminarmente os assassinatos do mandatário do Podemos Paulo Guambe e do advogado Elvino Dias”.
O crime aconteceu na Avenida Joaquim Chissano, centro de Maputo, com fontes no terreno a relatarem uma emboscada por homens armados à viatura em que ambos seguiam, depois das 23 horas, tendo sido disparados vários tiros que acabaram por atingir os dois ocupantes mortalmente.
O advogado Elvino Dias, conhecido defensor de casos de direitos humanos em Moçambique, era assessor jurídico de Venâncio Mondlane e da Coligação Aliança Democrática (CAD), formação política que apoiou inicialmente aquele candidato a Presidente da República de Moçambique, até a sua inscrição para as eleições gerais de 9 de Outubro ter sido rejeitada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Venâncio Mondlane viria depois a ser apoiado na sua candidatura pelo partido Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), cujo mandatário nacional das listas às legislativas e provinciais, Paulo Guambe, também seguia na viatura alvo do crime.
No âmbito das reacções, Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal condenou, disse que “liminarmente” os assassinatos do mandatário do Podemos Paulo Guambe e do advogado Elvino Dias, ocorridos na última noite em Maputo, capital de Moçambique.
“Portugal condena liminarmente os assassinatos do mandatário do Podemos Paulo Guambe e do advogado Elvino Dias”, lê-se na mensagem publicada na rede social X (antigo Twitter).
“O povo moçambicano exerceu legitimamente o seu direito de voto. Fazer jus à sua maturidade cívica implica garantir o carácter pacífico e ordeiro do processo subsequente”, acrescenta a publicação.
Também a União Europeia (UE) condenou o assassínio de Elvino Dias e de Paulo Guambe, afirmando que “numa democracia não há lugar para assassinatos com motivações políticas”.
Em comunicado, a UE apelou a “uma investigação imediata, exaustiva e transparente, que leve a tribunal os responsáveis por este crime ultrajante” e que “esclareça as circunstâncias em que ocorreu”.
Afirmando estar a aguardar “com expectativa” as reacções do Governo moçambicano, a UE referiu que “estes acontecimentos ocorrem na sequência de notícias preocupantes sobre a dispersão violenta de apoiantes no rescaldo das eleições da semana passada em Moçambique”.
“A UE apela à máxima contenção de todos e ao respeito pelas liberdades fundamentais e pelos direitos políticos. Além disso, é crucial que sejam tomadas medidas firmes de protecção de todos os candidatos neste período pós-eleitoral”, prossegue-se na nota.
“Esperamos que os órgãos de gestão eleitoral conduzam todo o processo com toda a diligência e transparência necessárias, respeitando a vontade expressa pelo povo moçambicano”, acrescenta-se.
Também o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa de Portugal, João Cravinho, que liderou a Missão de Observação Eleitoral da CPLP em Moçambique, disse que não era possível dissociar o homicídio de Elvino Dias e Paulo Guambe do processo eleitoral, condenando os assassinatos e considerando que “contribui para adensar as múltiplas dúvidas existentes sobre o processo eleitoral ainda em curso”.
E acrescentou: “Embora neste momento ainda exista muita coisa que não se sabe sobre os assassinatos, não é possível, nesta fase, sendo as pessoas que são, estando nós no momento em que estamos, não é possível dissociar do processo eleitoral”. O ex-ministro disse acreditar que os homicídios oferecem “uma mancha indelével sobre as eleições”.
“É evidente que estes assassinatos têm de ter investigação, que se deve de uma forma muito transparente identificar os culpados e levá-los a tribunal, isso é uma evidência. O problema aqui, para além disso, é que estamos também numa situação em que estas pessoas, entre outras, estão num processo de contestação de resultados, que conhecemos ainda de forma parcial”, adiantou.
Cinco embaixadas em Maputo, incluindo dos Estados Unidos da América (EUA), condenaram o duplo homicídio de elementos próximos ao candidato presidencial Venâncio Mondlane, pedindo uma investigação “rápida e exaustiva” ao crime.
Uma nota publicada pela representação diplomática norte-americana em Maputo, afirmava: “Nós, a Embaixada dos EUA, o Alto Comissariado do Canadá, a Embaixada da Noruega, a Embaixada da Suíça, o Alto Comissariado do Reino Unido, como parte da comunidade internacional, juntamo-nos aos moçambicanos na condenação do assassinato de Elvino Dias e Paulo Guambe e estendemos as nossas sentidas condolências às suas famílias e entes queridos”.
“Condenamos veementemente qualquer acto de violência política e apelamos a uma investigação rápida e exaustiva. Instamos todos os cidadãos, líderes políticos, instituições do Estado e partes interessadas a resolver disputas eleitorais de forma pacífica e legal, rejeitando a violência e a retórica inflamatória”, acrescenta-se na nota das cinco representações diplomáticas em Maputo.
E, depois disto tudo, a vergonhosa história de Frelimo (tal como a do MPLA) continua impávida e serena no seio da putrefacta hipocrisia da comunidade internacional.